“Os homens dividem-se, na vida prática, em três categorias – os que nasceram para mandar, os que nasceram para obedecer, e os que não nasceram nem para uma coisa nem para outra. Estes últimos julgam sempre que nasceram para mandar; julgam-no mesmo mais frequentemente que os que efectivamente nasceram para o mando.
O homem que não nasceu nem para mandar nem para obedecer sabe só mandar, mas como nem manda por índole nem por transmissão de obediência, só é obedecido por qualquer circunstância externa – o cargo que exerce, a posição social que ocupa, a fortuna que tem.”
Escrevia Fernando Pessoa por volta de 1926!
Hoje, como há noventa anos, parece que nada mudou… e a ter mudado, foi para pior! O apetite desmesurado pelo mando, depois de ter criado raízes, floresce a cada instante, indiferente a estações, climas e regiões! Seja em multas, coimas, contra-ordenações, apenas porque alguém acordou mal disposto… e lá sai um “ticketzinho” qualquer para lhes encher o ego! Para rir, se não fosse triste, a “estória” dos três montanhistas notificados para pagar 200 euros cada um por terem salvo outros tantos caminheiros perdidos no Gerês (beneficiando de um desconto de 25% a pronto pagamento)! São os excessos daqueles “mangas-de-alpaca” que vingam as suas frustrações e as suas infelicidades na satisfação e na felicidade do seu semelhante. E depois, e porque tudo daqui deriva, é frustrante que todos aqueles que deveriam reconhecer e tratar estes abcessos da democracia, também não tenham nascido nem para mandar nem para obedecer… Enfim:
- Seria higiénico, para aqueles que responsavelmente nasceram para obedecer, colocar algum travão a este doentio despotismo maquiavélico, que desacreditando instituições, desacredita uma sociedade e um País.