“Eu acho que todos os que se empenham para que Portugal ultrapasse as suas dificuldades se deviam regozijar com os bons números da execução orçamental. Eu não percebo como é que alguém fica maldisposto quando os números são bons”, afirmou Sócrates! Ora bem, Senhor primeiro-ministro: V.Exª. consegue perceber porque é que o proprietário de uma ourivesaria não fica bem-disposto quando é assaltado por um fulano educado (empenhado em ultrapassar as suas dificuldades momentâneas) e que no final do "serviço" ainda lhe diz, em jeito de satisfação, que o valor apurado foi superior ao esperado? Os números da execução orçamental são bons porque a receita com os impostos subiu 15%... só que para os mais realistas (os que não se regozijam com tais indicadores), os impostos não podem andar a subir indefinidamente. Imagine o tal assaltante, educado, ter criado uma certa "empatia" com o assaltado e começar a fazer regra daquilo que deveria ser uma excepção! No breve termo daria para desenrascar, mas não teria qualquer viabilidade no médio ou no longo prazo... por falência do lojista e possível detenção do "visitante"! E é mais ou menos por causa de idêntico cenário, muito idêntico, mesmo, que cada vez mais portugueses não se regozijam com o empenhamento demonstrado no ultrapassar das dificuldades do País (que deveria ser acentuado, isso sim, na redução da despesa - que não foi além dos 2,6%) e se mostram cada vez mais maldispostos quando os números até parecem ser bons. É que o fisco, com os seus funcionários muito bem-educados, abocanha já 48% de toda a riqueza produzida o que, diga-se de passagem, afasta qualquer cidadão do legítimo sonho de um dia poder vir a ser... ourives (sic)! Apesar da semelhança com a realidade ser pura coincidência, o certo é que depois de tantos e bons números a credibilidade portuguesa nos mercados internacionais continua pelas ruas da amargura. Será que é pela verdade se continuar teimosamente a ocultar sob o manto da ficção?
O fundador do Banco Português de Negócios (BPN), acusado de crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação de documentos, branqueamento de capitais, infidelidade, fraude fiscal qualificada e aquisição ilícita de acções, não compareceu na última sessão do julgamento, dispensado que foi "por razões de saúde e de idade"! Tendo em conta o exacerbado acto humanista desta Justiça, mal feito fora não o louvar, exaltando a forma como tem sabido lidar com tão sensível, debilitado e "pobre" cidadão (sic)! É que para além desta atitude, o início do julgamento do Senhor Oliveira e Costa já tinha sido adiado do dia 19 para o dia 24 de Janeiro último (por coincidência a seguir às Presidenciais) e depois novamente adiado para outra data (por falta de sala condigna, constou-se)! Independentemente de todas estas singelas atenções, não ficaria mal à Justiça, transmitir, também, uma imagem da sua seriedade (por pequenina que fosse) a todos aqueles "saudáveis" e "jovens" contribuintes que, através da Caixa Geral de Depósitos, viram injectados na falida "mercearia" do dito Senhor (entretanto nacionalizada) mais de cinco mil milhões de euros dos seus impostos (sem que daí tenha saído algo de palpável)! Mas pronto: a justiça não pode agradar a todos e sendo assim há que entender e respeitar que a "coisa" vá correndo de feição ao "coitado" do Oliveira e Costa! Ironias arquivadas, seria de bom-tom que alguém colocasse um ponto final em todas estas cenas ridículas e burlescas, uma vez que os portugueses já sabem como vai terminar tão oneroso e mediático circo. Nos Estados Unidos da América, o Senhor Bernard Madoff, também de 72 anos e com todas as "maleitas" próprias da idade, num punhado de dias foi condenado por idênticos motivos a 150 anos de prisão! Apesar de lá haver, também, pessoas muito importantes, o facto é que nenhuma delas se encontra acima da Lei! - É a diferença, estúpido!
Só nove anos após ter sido dado o primeiro alerta sobre o seu desaparecimento é que o corpo de uma idosa que vivia sozinha num apartamento nos arrabaldes da capital foi encontrado, pasme-se, pela nova proprietária do apartamento (ou do jazigo?) adquirido num ardiloso leilão das Finanças! Aparentemente não é assim um facto tão estranho face ao ter acontecido num País que mumifica, também ele, a cada dia que passa, desde aos quase 37 anos a esta parte. Ironias macabras enterradas à profundidade legal e a acreditar na preocupada vizinha que a todas as portas diz ter ido bater, o facto é que ninguém quis saber! A Guarda Nacional Republicana porque também devia estar privada de vida, sem no entanto emanar qualquer horripilante essência! A Policia de Segurança Pública porque devia também estar morta... embora não fedendo! Os Serviços de Finanças, defuntos, por certo, embora sem a mínima provocação do olfacto! A Segurança Social idem... morta e sem aroma! Mais a Electricidade de Portugal, os Serviços de Águas, o zeloso Administrador do Condomínio e por aí adiante... até chegar aos perfumados "cemitérios" de políticos, de chefes, de chefões e de chefinhos (que deveriam ter mão em toda esta tralha) e a um pouco de todos nós, afinal de contas cidadãos indiferentes a tudo e a mais alguma coisa! No meio de tudo isto e sejamos minimamente racionais (ao menos por uns instantes), onde é que está a anormalidade em a infeliz Senhora Augusta Martinho o seu fiel amigo e os dois canários (também eles abandonados à sua sorte pela bem cheirosa Sociedade Protectora dos Animais) terem estado nove anos (mais de 3.285 dias) de pernil esticado, em processo de acentuado emagrecimento e desidratação dérmica, numa inestética marquise de um dormitório da Rinchoa? Enfim: Dizem que o GNR se riu quando a vizinha se queixou. É evidente que só se podia rir! Afinal que mais poderia saber fazer (sic)?
Concorde-se ou não com a gestão governamental actualmente aplicada à nação, uma coisa parece ser unânime: nunca a ética, no "caldeirão" político-ideológico do poder, atingiu os níveis tão baixos que são dados a ver (autoridade versus autoritarismo, modéstia versus prepotência, seriedade versus trapaça)... e que por contágio, interesseiro, parece ir alastrando a todo o restante emaranhado dos "braços" da "coisa" política! Das "direitas" às "esquerdas" e dos "centros" aos "extremos" vai ganhando força o apontar do dedo, quase intimidatório, àqueles que ousam conscientemente discordar, no intuito único de com isso, os seus "ayatollas" manterem a sociedade moribunda, anestesiada, rendida. Se a situação interessa às "facções"? Aparentemente interessa... face ao surgimento dos cada vez mais consistentes arrazoados sobre a utilidade (?) dos Blocos, das Coligações e das Alianças de ocasião e conveniência. Para as novas gerações para quem a "longa noite fascista" mais não foi que um floreado romântico e poético de uma trova do vento que passou, não será de ânimo leve que num futuro, por demasiado próximo, venham a aceitar uma renascida "canga" ideológica que com "pezinhos de lã a pouco e pouco lhe vão assentando. E depois de atingido o términos da já diminuta pluralidade existente, não adiantará a estas almas mostrar preocupação por aquilo que desprezaram e abominam, (essa falta de interesse e desconhecimento tantas vezes apontada, cinicamente, por quem tantas responsabilidades tem na "coisa"). Restar-lhes-á, a partir desse ponto, a violência gratuita e inconsequente ao melhor estilo da que vai grassando, já, em outros países europeus. Assim, quase apetece dizer que a crise económica é de somenos importância ao lado deste deficit alarmante de consciências, porque é desta "ciência", a da moral, que todas as outras derivam: para o bem... e para o mal!