Sua Excelência o Presidente da República, ao tomar a decisão de não fazer coincidir a data das eleições legislativas com a data das eleições autárquicas, esqueceu não só os custos económicos destas “coisas”, a saturação e o desprezo dos Portugueses para com as arruadas interesseiras dos mais que conhecidos “salvadores” da Pátria mas também a cada vez mais galopante taxa de abstenção que se tem verificado! E se a nível económico, abstencionista e de apreço deficitário com toda a fauna em questão tal decisão presidencial ainda se assimilaria… o facto de a sustentar, essencialmente, nos caprichos da maioria da “partidagem” já não! É desmotivante ver o Presidente de todos os Portugueses fazer a vontade a meia dúzia de iluminados que vêem no Zé-Povinho uma “corja” de analfabetos, ignorantes e imbecis, a quem falta o discernimento necessário para votar em simultâneo em duas distintas consultas eleitorais. Tão distintas, pasme-se, que nas Legislativas a polémica vai andar à roda das grandes obras nacionais (como o TGV, o aeroporto, as auto-estradas e as travessias do Tejo) e nas Autárquicas a controvérsia girará em torno das grandes obras locais (como a fonte luminosa, o heliporto, os caminhos rurais e as “canadas” do ribeiro)! Mas pronto: Ficou bonito na fotografia, a pose foi de “modelo” de topo e a moldura mais que perfeita, não permitindo, assim, aos “paineleiros” do costume, congeminar quaisquer “colagens” suas a “beltrano”… ou mais concretamente a “sicrana”.
“A opinião dos Partidos deve ser especialmente considerada pelo Presidente da República” (disse) … daí, talvez, a explicação para o exacerbado abstencionismo dos portugueses!
Falar em sondagens no rescaldo do acto eleitoral europeu, é falar da derrapagem nítida, por defeito, que as mesmas sofreram quando sucessivamente minimizaram as intenções de voto no CDS-PP. Os Populares não deixam de ter uma certa razão quando se afirmam prejudicados com tais previsões... previsões essas que poderão ter travado, pelo efeito psicológico, uma votação mais expressiva no Partido do “táxi” (porque uma coisa é "publicitar" a prévia intenção do voto a raiar a mediocridade e outra uma indicação bem mais animadora desse mesmo propósito). Interessante, em idêntica matéria, num sentido oposto e numa óptica diferente, é olhar para as sondagens que até à "meia-dúzia" de meses continuavam a dar ao Partido Socialista (apesar das muitas manifestações de desagrado às medidas de gestão que em catadupa iam sendo tomadas) uma confortável maioria governativa caso as Legislativas fossem no momento realizadas e o efeito que essas (enganadoras?) sondagens terão tido na forma de gestão do primeiro-ministro e de toda a sua restante equipa de "convictos" membros! Suportado pela confiança que tais números incutiram num Governo que a reger contra tudo e contra todos se via constantemente a cavalgar a crista da onda, enorme, de uma enganadora maioria, a arrogância disparou em crescendo, a humildade (que agora, tardiamente, quer transmitir ao eleitorado) foi reduzida ao nada e o desprezo por tudo e por todos atingiu patamares que se julgavam impossíveis de atingir em democracia. Sócrates, o grande Estadista irreverente e visionário, errou, infantilmente, ao dar mais crédito às sondagens que aos sinais reais dos portugueses. Mas pronto: ninguém é perfeito… e afinal de contas (e por causa delas) Ele também não!
O Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva, ao discursar no dia máximo da exaltação de Portugal (do outro e dos ausentes), perante uma larguíssima audiência constituída pelos mais altos dignitários políticos de tal "casta", acabou por causar em quase todos eles uma sensação muito idêntica à que o respeitável quadrúpede ruminante cavicórneo porventura sente quando, vá lá saber-se porquê, decide olhar fixamente para um imponente Alcácer (sic)! Das duas uma; ou o Senhor Presidente, por lapso, não se exprimiu na sua língua de origem e usou um qualquer idioma da Papua Nova Guiné, quiçá o "pidgin", o que naturalmente levou a que ninguém percebesse "peva" do arrazoado... ou então falou efectivamente em português mas para uma plateia constituída por Melanésios e Micronésios (sic)!
Felizmente, para azar dos atrás citados grupos étnicos, a nação dotada de uma certa filosofia racional inclinou-se para a segunda hipótese! Cavaco falou para a direita, para a esquerda, para o centro, para a indefinição posicional do governo e para os muitos milhares de abstencionistas que num mui criticável, mas entendível gesto de desprezo para com a política e os políticos, mandaram às "malvas" o estafado, saturante e inconsequente dialecto de todos eles. Está bem que o homem também tem muitas "culpas no cartório", mas que diabo... é, agora, o Presidente de todos os Portugueses a viver com a angústia geral da crise (e com a aflição pessoal de não saber onde param as suas poupanças)! Por isto e por muito mais, é altura de o País se mentalizar, efectivamente, que deve aglutinar-se em torno da tal visão "estratégica de médio e longo prazo" e acima de tudo, "alheia a calendários imediatos". Serão tão difíceis de entender as "Presidenciais" palavras?
Com os Sociais-Democratas a usufruírem de uma relativa "doçura" nas urnas europeias e dos Socialistas a saborearem o forte "azedo" do reverso dessa medalha (já que 62,5% dos cidadãos optaram pelo "nim" do "Canderel") espera-se agora que os respectivos "patriarcas" destas linhagens políticas tirem de tudo isto as consequentes e necessárias ilações... para bem deles, de nós e da nação!
E se sobre as "Europeias" se ficou conversado, apesar de nunca, ou quase nunca, se ter falado da Europa, que estas ao menos tenham servido de exemplo para que não se repitam nas Legislativas os erros que levaram o imprescindível debate de ideias e de programas para as sarjetas da rua da amargura. É que, a não se verificar esta tão necessária e fundamental correcção que passará pelo aparecimento de uma nova retórica que sensibilize e diga aos portugueses, preto no branco e sem artifícios, qual é o destino que se quer para Portugal e de que forma se vai trilhar esse caminho para atingir o objectivo, tudo o que se faça é pura poluição sonora e "panfletária" rumo à completa ingovernabilidade. E depois?
Já é mais do que tempo (são 35 anos) de o País político meter as mãos na consciência e assumir, sem disfarces ou branqueamentos, o triste caminho que até hoje calcorreou, desgarradamente, ao arrepio de tudo e de todos e de finalmente fazer um derradeiro esforço no sentido de se tentar redimir de toda a politiquice circense que descaradamente implementou (o consenso unânime na escolha do Provedor de Justiça seria um bom começo para essa nova imagem da política e dos políticos). A não ser assim e a continuar-se com a habitual conversa da treta, é natural que os portugueses favoreçam cada vez mais a abstenção e se virem para a outra conversa, a verdadeira "Conversa da Treta"... do Zé-Zé e do Toni (sic)!
Uma percentagem considerável de cidadãos portugueses afirmaram não ir participar no acto eleitoral que elegerá os agora candidatos a umas "férias" douradas, quase excêntricas, nos meandros paradisíacos do parlamento europeu! Se a preocupação, para uns, é a da tão elevada taxa de abstenção, para outros, bem mais preocupante, é a do elevado número daqueles que inexplicavelmente ainda se disponibilizam a participar no acto! Ao invés de se desperdiçarem 4,5 milhões de euros com "coisas" desta natureza (as eleições para o PE) e uma vez que em Portugal, por mais grave que sejam as decisões ou as posturas, já pouco ou ninguém se preocupa com elas, não seria descabido que os Partidos escolhessem por sua alta recriação quem eles muito bem entendessem e os remetessem de imediato para a "oportunidade curricular" de Bruxelas! Por mais debates que façam e por mais provocações e diatribes que aconteçam, é quase injustificável... justificar, em consciência, o que fazem vinte e tal deputados de uma periferia subdesenvolvida do espaço europeu (onde o salário mínimo é de 450 €) para justificar uma "mesada" de 7.665 € e uma enormidade mais de subsídios, como os 17.000 € que cada um pode gastar mensalmente para remunerar os membros de "confiança" do seu gabinete de apoio pessoal! E se os nacionais ainda se mostram e falam que se desunham, os europeus, passado o "êxtase" da eleição, nem uma coisa nem outra, talvez pelo deslumbramento pelo luxo, pelo "chique"... ou pelo choque que o padrão social e económico que se vive por aquelas bandas (em contraste com a pobreza que para trás deixaram) de imediato lhes causa! E já agora:
- Se os referendos europeus não são viáveis devido ao "analfabetismo" (para não dizerem estupidez) do Zé-Povinho, porque carga de água é que fazem tanta questão em ter agora o voto desses mesmos ignorantes?