Terça-feira, 31 de Maio de 2005
A BORGA, DO BORGA
Poderíamos compará-lo ao Irmão João Luís, mas não. O Irmão João Luís não sabe cantar e além disso é um charlatão (estou á vontade para dizer isto, porque já lho disse na cara)! O padre José Luís Borga é um ícone na música nacional. É uma estrela nessa constelação de eleitos. Com ele ganharíamos o Festival da Eurovisão. O tema Põe a tua Mão conquistou Portugal. Tem programas nas rádios, nas televisões, tournées junto dos nossos emigrantes
Lembram-se dele no programa Casos de Polícia, na SIC? Este homem está á vontade em qualquer cenário, a dissertar sobre qualquer assunto. Quando vejo o Padre Borga, lembro-me sempre do Nuno Rogeiro.
Chega a fazer quatro espectáculos por fim-de-semana. A sua música é de bradar aos céus e milhares de mães trauteiam a canção Põe a tua Mão quando os seus filhotes não querem comer a sopa ou beber o óleo de fígado de bacalhau. Também os maridos são prendados com a canção se os relógios se atrasarem no regresso ao lar. Os pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, IURD, ao verem o êxito de tal tema, arregaçaram as mangas e lançaram o Põe o Mealheiro na nossa Mão, mas o êxito tem sido relativo. Falta-lhes a publicidade diária e gratuita do Jorge Gabriel e da Sónia Araújo.
Borga, Borga
só a do Borga, gritam os Escuteiros em uníssono, depois de saborearem uma ginjinha e um Português Suave, á volta da fogueira (o Padre Borga baniu do acampamento os rebuçaditos de exctasy e a Playboy).
Senhor Presidente da República: o 10 de Junho está á porta e V.Exª. já deu medalhas por muito menos. Lembre-se do Padre Borga.
Assume-se como um padre que canta e não como alguém que canta que é padre.
Vamos lá entender isto
Segunda-feira, 30 de Maio de 2005
KODAK, a côres
Pegamos em qualquer jornal da nossa praça, e invariavelmente, lendo só as gordas, as coloridas ou vendo apenas as fotografias, acabamos por chegar á página ou páginas da Necrologia, habitualmente uma das últimas.
É a participação de um falecimento, é um agradecimento ás pessoas que participaram no funeral que conduziu o ente querido á sua última morada, são os poemas de extremo mau gosto com que os familiares brindam os seus defuntos, os quais, por certo, os fará dar uma gargalhada lá onde quer que estejam.
É a publicidade, ás vezes bastante original, ás agências funerárias, ilustradas com raminhos de oliveira, com pombinhas de asa aberta, e onde se garante nunca terem tido uma reclamação por parte do utilizador dos seus serviços (pudera).
Também esta página serve como espelho do poder económico dos seus intervenientes. A conversa é invariavelmente sempre a mesma. O espaço
bem, o espaço pode ser o 4 x 6, onde cabo o texto e uma foto e se for em letras bem miudinhas ainda se impinge o habitual poema ou quadra, onde a dor rima sempre com o amor. Este é o espacinho de eleição da maioria dos portugueses, porque ainda ninguém se lembrou de criar um crédito para estas situações. Um crédito que nos permitiria ter cada defunto com uma página A2, cheia de cruzinhas, de agradecimentos, de versos e quadras.
Mas todo este arrazoado anterior nasceu de uma dúvida que transporto comigo há já algum tempo!
Se as fotografias a preto e branco já foram esquecidas, inclusive no Bilhete de Identidade, porque teimamos em brindar os nossos entes com essa imagem ultrapassada do á lá minute?
Daqui faço um apelo! Vamos dar cor á página da Necrologia.
Sexta-feira, 27 de Maio de 2005
A MINHA PASTA
Sem mais nem porquê, talvez numa de zapping, gramei com uma porrada de spots publicitários. Fiquei surpreendido com o numero de dentífricos que existem no mercado. Como o assunto é demasiado sério para me passar ao lado, meditei sériamente sobre ele, e cheguei a uma conclusão que éticamente e deontologicamente, não é nada favorável aos nossos estomatologistas. Verdade, verdadinha
sou eu que vos digo! Ora reparem.
O Dr. Beltrano, recomenda o dentífrico A como o único eficaz para a sensibilidade dentária, escolha esta partilhada também pela Associação Portuguesa de Dentistas. O Dr. Sicrano, recomenda o dentífrico B como o único eficaz para a sensibilidade das gengivas, por ser o único testado por uma Associação Dentária Americana. O Dr. Tal, recomenda efusivamente o dentífrico C para dentes manchados, aliás, também recomendado pela Sociedade Portuguesa de Estomatologia. E seguiram-se mais meia dúzia de reclames a outras tantas pastas brancas, azuis, ás risquinhas
Comecei a imaginar a prateleira do meu W.C. recheada de 20 caixinhas multi-cores, cada uma com o seu fim específico. É que eu, sofro de todos aqueles problemas dentários !
Quarta-feira, 25 de Maio de 2005
GRÂNDOLA, VILA MORENA
Acabei de ouvir o Jornal das 20, e a maldição que de tempos a tempos sai do seu côma ligeiro e acorda o País, faz-nos entrar numa onda de pessimismo e de revolta. Desde o 25 de Abril de 1974, que o ano a seguir é sempre pior que aquele que terminou. Já lá vão 30 anos. Os cravos, murcharam á muito.
O País prepara-se para ouvir as medidas de austeridade que vão ser tomadas pelo actual Governo. É mais um desgoverno, só mais um. Estamos já preparados para o aumento do Iva. Aumento dos combustíveis, das bebidas, do tabaco. Congelamento dos vencimentos e progressões na função pública
e o que mais ai virá. A juntar a tudo isto, diariamente, são as fábricas que se deslocalisam para países do leste ou do norte de África gerando o consequente desemprego. O nosso sector pesqueiro está em crise, o conserveiro é diminuto, a agricultura é inexistente, o sector turístico está em desespero. O sector têxtil esvai-se diariamente. O QUADRO É NEGRO E CAMINHA JÁ PARA O DESBOTADO. Nada produzimos. Em 30 anos de democracia ninguém pôs mão em Portugal. Melhor dizendo, há séculos que ninguém tem mão em Portugal.
Fomos á Índia buscar as especiarias que se vendiam á Europa. Depois fomos para África buscar e negociar escravos. Fomos ao Brasil transaccionar diamantes. Nas ex-colónias tínhamos o ouro, os diamantes e o petróleo. Agora temos a Europa, fundos europeus, subsídios, comparticipações
PORTUGAL, nunca na sua história produziu o que quer que fosse.
Fomos grandes sempre á custa de outros. A nossa grandeza como heróis do mar, nobre povo, nação valente e imortal, sempre foi fictícia. Há muito que não levantamos o esplendor de Portugal.
SEMPRE TIVEMOS MEDO DE SER PORTUGUESES.
VIVER DAS APARÊNCIAS É A NOSSA IMAGEM.
E AGORA, PORTUGAL?
Terça-feira, 24 de Maio de 2005
SAGRES, A NOSSA CERVEJA
Somos um povo triste e deprimido. Quando alguém nos pergunta como estamos, respondemos invariavelmente com o menos-mal, mais ou menos ou vai-se andando. Não somos carne nem somos peixe. Somos uma espécie de congelado a que normalmente chamamos de red fisch e com o qual nos iludimos fazendo de conta que saboreamos um belo linguado acabadinho de pescar e saboreado na esplanada do GIGI , na Quinta do Lago .
Somos como aquela espécie de chocolate, que os vizinhos espanhóis aqui há uns anos nos impingiram com o pomposo nome de sucedâneo de chocolate e que nós avidamente consumíamos, imaginando vaquinhas a pastar nos alpes suissos.
Somos os únicos, pela nostalgia constante de que somos imbuídos, que temos saudade de tudo e de todos. Choramos baba e ranho por tudo e por nada. A nossa música é triste. O fado é um chorrilho de amores e desamores e de vidas fadadas para a desgraça. Talharmos com o nosso machado as tábuas do nosso caixão
é pura auto-flagelação. As nossas estradas são tristes. Conduzimos como loucos, somos os maiores, nada nos acontece, porque os R5 ou Unos, nas nossas mãos, viram Porches ou Ferraris. Depois
bem, depois enfeitamos as nossas estradas com alminhas. Conforme as posses da família, pode ser um raminho de flores de plástico e uma cruzinha de pau
pode ser uma cruzinha de ferro, já trabalhado e com a data do trágico desfecho
e por ai a fora, até chegarmos á cruz de granito, já com direito a santo trabalhado, símbolo de um certo poder, de um certo status quo.
Depois
acho que já me estou a alongar nesta prosa!
Depois passamos anos e anos a poupar, e depois de tanta poupança, cansados, esfarrapados e quando finalmente a sorte está já ao virar da esquina, perdemos a paciência por tanto poupar e estoiramos esses anos e anos de poupança num Centro Cultural de Belém
e o ciclo da poupança recomeça do número zero! Depois de outro igual período, veio a Vasco da Gama, veio a Expo
fazemos dez Estádios de Futebol, a Casa da Música. Compramos aviões de combate, blindados, submarinos, fragatas e helicópteros.
Agora vamos entrar noutro ciclo de grandes poupanças, porque atingimos um deficit de 6,83 %, dizem eles. O nosso futuro é negro! Já andámos vestidos, depois de tanga, a seguir de fio dental e agora aderimos ao nudismo.
Já não há pachorra para poupanças, porque poupar não é digno da grandeza do nosso povo, da nossa nação,
é melhor começar a viver do CRÉDITO!
E já chega de tanto arrazoado.
As férias estão á porta, tenho que ir comprar o último CD da Mariza, ver o óleo do Punto, comprar umas bejegas ao Lidl e passar pela Caixa Geral para pedir umas corôas para pagar o aluguer do quartito em S.Pedro de Moel, na primeira quinzena de Agosto.
QUEM VIER A SEGUIR QUE APAGUE A LUZ E FECHE A PORTA!